Sunday, May 1, 2011

O mais importante fato estilizado de debates

Imagine uma pessoa A e outra B, sendo que A defende o status quo e B é a oposição. Defina os melhores argumentos que A e B usam para defender seus pontos como a* e b*, respectivamente.

Agora imagine que A e B não tenham nenhum valor ou crença que os associem fortemente a estes argumentos. Por exemplo, A não usou a* por motivos religiosos ou porque A realmente acredita que a* está de acordo com seus princípios, mas simplesmente porque é o argumento mais eficiente para se ganhar a discussão.

Nesse caso, teremos que, invertendo os papéis, a escolha do ótimo fará com que A e B invertam suas escolhas de argumentos, isto é: Agora, com A sendo oposição, como nenhum valor ou moral o prendia ao argumento a*, e dado que b* é um argumento melhor para a oposição, temos que A agora usará b*, justamente o argumento que criticava quando era status quo.

É isso que acontece em quase toda discussão por aí, tanto as de futebol (Ah, meu time não ganhou nada esse ano, mas o que importa é a quantidade de títulos total. Ih meu time acabou de ganhar, então o que importa são os títulos recentes!), quanto as políticas e, porque não, acadêmicas.

Agora, tentem prestar atenção neste tipo de hipocrisia e tente ver quão firmes são os valores da maioria dos brasileiros por aí...

Mais sobre este assunto em breve.

Thursday, April 14, 2011

Preferências (e preconceitos) Sociais


Esta criança, no momento em que a foto foi tirada, tinha entre 5 e 7 anos. Foi vestida pelos pais e colocada no banquinho para tirar a foto. E é um menino, chamado de Franklin Delano Roosevelt.

Na época, vestidos eram roupas sem gênero específico, e crianças de ambos os sexos a usavam até a idade de Roosevelt na foto, quando normalmente eles ganhavam seus primeiros cortes de cabelo. Rosa era para meninos, pois era vista como uma cor mais "forte e decidida", e azul para meninas, por ser uma cor mais delicada. Quais são as nossas percepções sobre estas cores hoje?

Este é apenas um exemplo de como as preferências são socialmente influenciáveis, e o quanto nossas "funções de utilidade" na verdade podem mudar de tempos em tempos de acordo com o que os outros preferem e com o que acreditamos ser melhor para nós mesmos. Esta última frase parece óbvia, mas nunca é demais reforçar que nossa função de utilidade é moldada e reinventada por uma quantidade imensa de influências externas (o que a sociedade pensa de você) e internas ( o que você acha que é melhor para você).

Um erro de percepção ou uma convergência de preferências da sociedade para um padrão qualquer (meninos vestem azul, meninas vestem rosa), sem qualquer motivo aparente ou razão implícita, gera uma sequência de eventos que acaba moldando as preferências de todos. Para não serem reprimidos pelos seus iguais, todos acabam aderindo a estas normas.

Será que este é o equilíbrio ótimo para a sociedade? Deixar com que todos sejam mais livres para vestirem seus filhos como quiserem não seria melhor, pelo simples fato de ser a decisão ótima com uma restrição (social) a menos, ao invés do ótimo restrito por mais esta barreira imposta por uma convenção? Aliás, porque essa convenção de cores para meninos e meninas surgiu?

Supostamente, a sociedade estava livre para seguir seu caminho sem esta imposição de que determinadas cores devem ser usadas apenas por bebês de um determinado sexo. Então esta convenção só deveria surgir se melhorasse o bem-estar da sociedade como um todo, independente de como o faça. Será que ela surgiu para melhorar a sociedade ou apesar de piorá-la?

Uma explicação que não entra em conflito com a idéia de que liberdade gera maior bem-estar é de que esta convenção surgiu pela necessidade (ou desejo) dos pais de que o sexo de seus filhos fosse identificado ainda quando bebês. Isto gerou a classificação do sexo dos bebês por cores, que no início do século XX era trocada em relação a como é vista hoje (azul para meninas, rosa para meninos) mas ainda servia a seu propósito de identificar os gêneros.

Certo, então existe uma explicação para a convenção criada pela sociedade. Mas e a troca de preferências? O que fez o rosa ser visto como masculino no início do século XX e agora não o faz mais?

A idéia pode ter surgido de alguns indivíduos e ter se espalhado como uma meme, falsificando (ou apenas "mudando", para não ser tão tendencioso) preferências pelo caminho. Mas este assunto fica para outro post.

Wednesday, April 6, 2011

Instituições e o Desenvolvimento Econômico de Longo Prazo

"Tropics, Germs and Crops", artigo de William Easterly e Ross Levine, apresenta uma visão interessante dos fatores que afetam o crescimento econômico de longo prazo (pense em séculos). A idéia geral é a de que fatores geográficos afetam o destino do país colonizado, mas somente através das instituições, ou seja: o clima, as condições de vida dos colonizadores, as riquezas naturais, a distância da metrópole, etc, ajudam a moldar a cultura, leis e outras instituições que definem um país, e são essas instituições que finalmente vão definir se o país se desenvolverá rapidamente ou não.

Fazendo uma simplificação um tanto ingênua, tente entender uma sociedade ou governo como se fossem indivíduos. As instituições, nesse caso, seriam o conjunto de características que ditam como será o comportamento desta pessoa, uma espécie de personalidade nacional, ditada pelas suas preferências e por alguns acontecimentos que marcaram sua vida.

No caso de países como Brasil, Gana, Congo, a mortalidade dos colonizadores era bem alta, o que se traduz em alto incentivo a não morar nesses locais.

Nos EUA, a história era diferente: a probabilidade de morrer ao chegar na colônia era bem menor, o que dava melhores incentivos para que os colonizadores se instalassem na região e tivessem uma mentalidade mais no estilo "viemos para ficar".

E o que eu, como uma sociedade, quero da colônia ao me instalar nesta nova região de uma vez por todas? Quero respeito à minha propriedade, isto é, que não seja permitida a apropriação, por qualquer indivíduo ou grupo deles, do que eu criei através do meu trabalho. E se esta sociedade estivesse sendo criada no Brasil ou África? Bom, a idéia não é se instalar neste local perigoso, então eu quero simplesmente extrair o máximo de riqueza possível para ter uma vida melhor quando voltar à metrópole. Portanto, uma colônia nesses lugares deveria ter instituições que assegurem a minha capacidade de extrair o máximo de riqueza que puder, e não deixe com que forasteiros (qualquer pessoa sem poder político ou que não seja da elite que cerca o governo) assim o faça.

Esses dois objetivos bem diferentes foram determinantes na forma com que as instituições foram moldadas no Brasil e nos EUA, estimulando um caráter imediatista no primeiro e uma mentalidade de longo prazo no segundo.

A questão que fica é: o quão difícil seria mudar as instituições que aqui estão? Seria possível mudar a sociedade e sua "personalidade", que hoje se mostra anacrônica por conta dos fatos e condições históricos que a moldaram? É possível fazê-lo em poucas gerações, ou em um período de tempo razoável? Será que a resposta é tão desanimadora quanto eu espero que seja?

No quesito "Retórica Vazia", União Sada do Cruzeiro: DEZ

Mais uma resposta da diretoria do Cruzeiro. (caso o link não funcione mais, a resposta está no fim do post).

No 1o parágrafo, uma tentativa de justificar os erros usando problemas que ocorreram em outros jogos;

No 2o, vangloriação da torcida tentando implicar que ela não pode estar errada;

No 3o e 4o, alguns elogios ao crítico e a seu argumento, para passar a impressão que a resposta é equilibrada, não-viesada e partilha das mesmas qualidades da crítica que lhe foi feita;
No 5o, uma tentativa de impor dúvida sobre as reais intenções do crítico, assim supostamente diminuindo a validade do seu argumento sem precisar explicar nada sobre o seguraça bêbado;

No 6o, os elogios do 3o vão pro cacete e rola um argumento ad hominem que não poderia ser mais explícito;

No último, um argumento de autoridade e uma suposição de que, se não aconteceram problemas, foi POR CAUSA do policiamento ótimo e não APESAR de um policiamento bêbado e incapaz.

Um show de debate construtivo da diretoria do Cruzeiro, que está aprendendo direitinho com Schopenhauer e a diretoria do Flamengo.

"Na última partida do Sada Cruzeiro contra o Vôlei Futuro, nada ocorreu que já não tivesse acontecido, em maior ou menor grau, em outros jogos da Superliga de Vôlei. Nossos atletas, em vários ginásios pelo Brasil, também recebem gritos das torcidas adversárias, mas como profissionais são treinados para conviver e atuar com as provocações.

A torcida emoldura o esporte competitivo. Campeões do mundo e olímpicos, consagrados na história do vôlei, já passaram por inúmeras provas. E as venceram por sua capacidade profissional.

As alegações do jogador Michael são totalmente genuínas e ele merece respeito. Temos a maior estima pelo atleta, que poderia perfeitamente integrar os quadros do Sada Cruzeiro, independentemente de suas opções e escolhas pelas quais temos absoluto respeito.

A equipe Sada Cruzeiro abomina qualquer tipo de atitude discriminatória e considera que deve haver uma orientação e conscientização dos torcedores de maneira geral, em todo o país.

Lamentamos que o time adversário recorra, fora da quadra, para a prática de acusações extemporâneas. E que tenha escolhido exatamente o momento após a derrota para lançar uma campanha contra a homofobia, que é absolutamente válida, mas que veio acompanhada de fantasiosas e irresponsáveis acusações, como a falta de policiamento, não atendimento no número de ingressos solicitados, seguranças supostamente bêbados trabalhando no jogo em Contagem e outras afirmações, que além de não ter qualquer precedente, são movidas com o intuito de criar um clima de guerra nas semifinais da competição.

Não estranhamos a postura do Vôlei Futuro, que já foi responsável por várias confusões em quadra e fora dela nesta Superliga, ainda na fase classificatória.

Esperamos que no segundo jogo da semifinal em Araçatuba-SP a equipe Sada Cruzeiro possa ser recebida em conformidade com o regulamento da CBV, entidade esta que não relatou nenhum problema técnico na partida realizada em Contagem. Um relatório da Polícia Militar atesta que o policiamento foi suficiente e não foi registrado incidente dentro ou fora do ginásio, antes, durante ou depois do jogo, garantindo segurança a todos os presentes.

Diretoria do Sada Cruzeiro"